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Sonhar é preciso, nem que for sonho de padaria...

Nem uma coisa nem outra, o que há entre elas é o que me encanta

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

dislexia

Pro disléxico tanto faz
Carlota ou Cartalo, digo,Cartola

do outro

Preciso do outro porque não me enxergo sozinho,
o que consigo ver de mim é até onde meus olhos alcançam,
e onde não alcançam, o outro vê e me revela.

material nobre

é que quando algo quebra ou trinca, o material para unir as partes deve ser bem mais nobre que o próprio algo...
considerando que somos apenasmente humanos, fica difícil reatar alguma relação trincada...
só mesmo sendo outra

véspera

De véspera eu estou todos os dias...

ânimo

ânimo
alma
eu
você
nós
passos
laços
conquistas
fracassos
dia
diamantes
noites sós
manhãs amantes
mais passos
chão
casa
mão
outra mão
asa
sol
mar
par
haja céu
mundo
profundo
amargo
mel
abraço
remanso
colo
cansaço
descanso
fôlego
ânimo
alma
eu
você
nós
passos
laços...

deságua

deságua, desmedida, desilusão
mais que prefixo 
muito mais que negação
signo prolixo
anúncio de libertação

procura-se

procura-se
encontra-se
perde-se
desencontro
de(x)iste-se

fio

no fio
da navalha
ou do algodão
por um fio
ou um desvio

do raso

Esse mundo tá mesmo todo perdido em propaganda; 
muito barulho por (quase) nada. 
Tudo o que se vai conhecer a fundo, 
não passa de sua superfície; raso.

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

ia

e no meio da ventania um beijo rodopia,
um jeito de amar que se despia no ar
e no ar, amor que simplesmente ia

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

significar

ser é significar
sentido envolto, memória em par
padecer, é perder o tempo de estar
apagar o signo, ruminar umbigo
despalavrear

domingo, 23 de novembro de 2014

eu-você

você sou eu sem saber, 
e eu, você, mesmo sem querer...
estamos perdidos e desencontrados em nós,
e em nós, 
matéria-prima,
parente, que de tão rente,
nem se vê...
(mas que sempre se afina)

comida

misturar os temperos, refletir entre os cheiros, fazer do/fogão alquimia, é como versejar, é um outro jeito de fazer poesia. Da pimenta ao agridoce, o desejo do alimento de tudo quanto mais que comida fosse...
Frango assado com batatas no forno, quando o coadjuvante rouba a cena e torna-se primoroso poema: a batata assada, macia, douradinha e vestida dos temperos todos!

palavra...

É preciso coragem para ser palavra; é preciso asas para voar e para palavrear... Palavra é líquido e também é ar, quando não mais se satisfaz no chão, palavra que principia ação precisa flanar, aspira imensidão... Você é palavra, e ar e água em estados de ser e transformação!!!

ponte

eu só quero mesmo é ser ponte
às vezes rio,
outras, só água

em cena

Depois da janela desenhada e aberta, o salto, 
mas antes, o impulso, o desequilíbrio.
Depois, é só deixar-se cair em cena.

da morte das discussões...

A morte das discussões nos campos das ideias é que me assusta e transforma toda e qualquer tentativa de diálogo em ataques pessoais. A capacidade de discussões saudáveis está minguando na mesma proporção em que a violência está inflando e nos tornando humanamente miseráveis. Estamos tão carentes e desejosos de atenção e de mimos que sem pensar, rugimos e ruminamos diante do discurso do outro. Assim não há diálogo que resista, nem conhecimento que se amplie. Não há.

pra me decantar

nenhum advérbio me satisfaz
nem me traduz, nem induz
nem um modo de ser,
nem lugar para estar,
nenhum abrigo além do disco antigo
pra me decantar

verdades...

até que um dia morreu engasgado com suas verdades e fim

de si a si

ninguém foge de si por muito tempo...
há sempre um espelho...
há sempre uma revelação a nos "desocultar"
para cairmos em nós,
e chegarmos a si

e o que a gente vê?

o tempo dos diamantes
o ventre das pérolas
a alquimia da natureza
gritando a olhos vistos
e o que a gente vê?

linha

preciso de uma máquina de costura e linha na agulha
preciso fiar, costurar, remendar, bordar...
há muito o que tecer ainda...
a trama nunca acaba
em todo ponto de ida, há volta

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

do que me assusta

A morte das discussões nos campos das ideias é que me assusta e transforma toda e qualquer tentativa de diálogo em ataques pessoais. A capacidade de discussões saudáveis está minguando na mesma proporção em que a violência está inflando e nos tornando humanamente miseráveis. Estamos tão carentes e desejosos de atenção e de mimos que sem pensar, rugimos e ruminamos diante do discurso do outro. Assim não há diálogo que resista, nem conhecimento que se amplie. Não há.

o que vejo do mundo

o que vejo do mundo não é o mundo
o que vejo do mundo são anúncios
o que vemos do mundo não pode mesmo ser o mundo
não cabe numa vista só o mundo,
não cabe...

ponte



eu só quero mesmo é ser ponte
às vezes rio,
outras, só água

nem

nenhum advérbio me satisfaz
nem me traduz, nem induz
nem um modo de ser,
nem lugar para estar,
nenhum abrigo além do disco antigo
pra me decantar

até que



até que um dia morreu engasgado com suas verdades e fim

e o que a gente vê?

o tempo dos diamantes
o ventre das pérolas
a alquimia da natureza
gritando a olhos vistos
e o que a gente vê?

domingo, 21 de setembro de 2014

deserta

certa das incertezas
decerto, deserto
invencionices,
destrezas...
pra não perder o clima
nem a rima
deserta
nos ensaios 
de solidão

escuta

porque findo...
o milagre da escuta,
escuta?
permita a permuta
do olhar?

é de chão minha erudição

da elite que não me cabe,
não me aguenta,
não me serve,
um ovo (de codorna)
um ponto
só um ponto
do meu salto
não o de minha concentração
sou pontos vários
é popular minha erudição
não só,
mas não cabe seu voo
na elite que é pequena
sem dó, nem pena,
nem voos
além do óbvio poder
pelo poder
descer de mim
é ser um centro assim
só de ida
em plena ilusão
de subida...
ascensão?

dos meninos e das histórias

um menino e uma história guardada no livro. uma história de um menino na mãos de outro menino. um encontro de meninos, outra história. dois meninos, o espanto igual. igual encanto. dois meninos e uma história contada no chão. uma história de mães e meninos. uma história de filhos. vida de meninos dentro da história. a infância. o final. a emoção. a alegria. o começo de outra história. a infância. a bola. a amizade. dois meninos e uma bola num sábado ensolarado. uma história encantada no chão de Jundiapeba. só mais uma...outros sábados virão. outros meninos. outras histórias no chão.

dos sólidos de tudo

tudo o que é sólido pode ser mastigado, triturado ou esculpido

algodão doce

plantei um pé de algodão doce
floresceram nuvens de todas as cores

de passeio

De passeio...
a vida toda
de passeio pela vida...
no mais é ludo e lida

repartir

repartir é partir sempre e de novo pra outro lugar 
é partilhar encontro e desencontro
é nunca estar pronto
é seguir na vida todo jeito de olhar

anúncio

ANÚNCIO: troco uma rima por um verso livre e voador.
aceito doação...

meninice

descalça ou de "precata", era assim que eu voava na meninice

domingo, 27 de julho de 2014

viver...

viver é ter onde descansar o olhar

sobre saltos e existência

sobressaltos
à parte
de(s/x)istir?

findo

labor
bolor
labuta
labirinto
fio 
mapa
lapa
porto
parada
respiro
um tiro
absinto
beijo amargo
instante
findo.

de hoje

de hoje em diante,
em dia com o doravante,
até o (des)juízo final

no meio

no meio do carinho tinha um amor,
tinha um amor bem no meio do carinho...
e o gesto se edificou
pelo caminho do meio...

cir(andar)

e a ciranda anda pra frente e de repente pra cá... 
a ciranda é uma constelação de mãos a caminhar
pra traz e pra diante, coral de pés, elegante
a ciranda a cirandar...
toda ciranda é feito um diamante
girando aceso no movimento de amar

um começo

ponha o vestido no avesso
invista no recomeço
abandone o adereço
leveza não tem preço
mirar pra dentro, só com apreço
movimento, o endereço
no descaminho, reconheço
o desalinho do moinho
meu tropeço
em todo fim
um começo

vendo

VENDO
flores e acordes maiores e menores
passeando de mãos dadas em plena tarde anoitecida

acho que

acho que às vezes me perco
em dias assim, 
respiro fundo no fundo de mim
e principio paciência

se

Se oriente,
se ocidente,
se gente...
humanize-se

gosto(S)

Gosto dos conjuntos,
grupos de mundos,
constelações de cores,
variações de versos e sabores,
do que se reverbera
minha alma se "intera"
e no chão ou nos andores
um grão de impossíveis idades
vestido de inteiro e metades

quarta-feira, 7 de maio de 2014

Nota

Nota do dia de hoje que pode ser qualquer dia
            Apesar de tudo, ela ainda se alimentava, sentia fome, gostava dos cheiros, tinha sede de algo que não sabia direito o que era e de onde viria, mas tinha sede, sentia fome ainda e por isso buscava. Dormia e acordava todos os dias movida por essa busca, por essa sede, por essa fome. Hoje, como vários hojes iguais, escolheu um prato pra depositar seu alimento. Da montanha de louça suja, sabe-se lá de quantos dias amontoada sobre a pia, a mesa e qualquer lugar onde se pudesse colocar um copo, um prato, um xícara, uma panela, desse amontoado de louça, quase toda louça da casa, escolheu um prato de vidro azul. Talvez pela transparência azulada, talvez pela forma pequena, talvez porque era o primeiro da pilha e estava na direção da torneira. O armário estava vazio. Nele não mais pratos.

De olho no macarrão amanhecido, temperado com um galho de manjericão, sentiu aquela fome de todos os dias. Pegou o prato azul translúcido, ainda com as marcas da refeição de ontem e sem cerimônia, deu uma passada por debaixo da água, assim, de raspão, num rompante. Passou o prato no jato de água, com as duas mãos, como uma peneira dançou o prato pra lá e pra cá. Foi o maior movimento do dia. Depois, balançou o prato pro excesso de água escorrer e ali mesmo, num único movimento, encheu a espumadeira do macarrão e depositou no prato. Esquentou no micro-ondas por menos de um minuto. Dispensou o queijo ralado. Matou a única fome que pode matar no dia. Depois, levantou-se do sofá onde fazia regularmente suas refeições, tomou um copo de água com o prato vazio ainda em uma das mãos. Dirigiu-se a qualquer espaço ainda vazio de louça suja e ali deixou o prato e o copo, vazios...

sábado, 3 de maio de 2014

Leve Tudo (Eva Rocha e Manoel Lucena Mesquita Jr.)

Não entre na minha casa! 
Deixe em paz minha riqueza! 
Mas se entrar leve tudo 
O que está posto sobre a mesa: 
Meu coração, minha vida. 
Meu sonho e cada noite invertida

Só deixe aqui minha tristeza,
Que é dela que me vem o ar,
E todo o meu alimento
Deixe em paz essa ferida 
Que não tem mais cabimento
O meu amor foi embora
Levando junto o meu sorriso,
Agora, todo passo indeciso, 
Só o nada já se faz e nele resiste
Cada esboço de alegria
Um parir dilacerado, entranhado
Numa dor que traz à luz só verso triste

Por isso não entre na minha casa! 
Deixe em paz minha tristeza! 
Mas se entrar leve tudo 
O que está morto sobre a mesa

quinta-feira, 1 de maio de 2014

ferida

ferida que os segundos arrancam a casca
visível ou profunda
cicatriz... 
há sempre uma marca do tempo em nós
às vezes dói, 
outras só um triz
noutras
ferida que os segundos arrancam a casca


desvio

não raro, 
a incompetência de cuidar de si, 
conduz ao cuidado exacerbado do outro,
é um desvio, não raro.

verbo

e o verbo fez-se verso
fez-se verve 
desfez-se todo em poesia

plenos?

muitas vezes assim inteiros de nós, plenos
sem mais nem menos
é que sucumbimos de nós mesmos

dor

nem vou te falar de minha dor
ardor...
ardida
adormecida
dor amanhecida
nem vou te falar

broto

Porque meu corpo é grão que brota no chão de minha alma
minha alma colo permanente, 
berço pronto pra semente adormecida despertar
brotemos!!!

sexta-feira, 11 de abril de 2014

educação

nossa educação é de cor
é branca nossa religião 
nossa escola vem de fora
apaga o que a gente tem por dentro
engole nossas cismas,
enche de cal nosso pensamento
nossa voz é multicolor e anseia um ouvido 
um canto, um rebento de grito
colorir a palidez suprema da história
espectro das cores, cor da luz
e assim o mundo de ponta cabeça,
e outra memória cresça e apareça,
nossa educação não é indolor,
e como não é transparente (nem neutra)
deixa sangue pisado na alma da gente

quarta-feira, 26 de março de 2014

nexo

nexo indizível entre
o amplexo do impossível
e o cabível gesto de sonhar
reflexo de utopia na poça de água da rua
espelho torto que revela minha alma na tua
miragem(?) lunar

falar

falar de amor, ou seja lá o que for,
não é ser/viver o amor
é só olhar por sobre o amor e dele falar,
apenas falar do amor, ou seja lá que for

sem fôlego

e quando já sem fôlego, num último fio ar, perdeu o compasso
o ritmo, a valsa, a contradança...e por querer
estatelou...desistiu...cansou do que não viu
num susto entregou-se ao salto
e do alto, viu-se em terceira pessoa
o quanto havia escalado da montanha era imenso...
teve pena, medo, compaixão...treinou compreensão
entendeu que daquele ponto em diante,
além do céu ou o chão...
só restava imensidão...
e já sem fôlego, num último fio de ar,
suspirou...deixou-se flanar

segunda-feira, 17 de março de 2014

inexorável?

inexorável 
até o último suspiro,
depois disso,
a alma inteira desfeita
refeita em fios cor de flor
matéria do invisível
a qualquer olho nu
das vestes do espanto
só dizível nas sílabas
inauditas do amor
inexorável,
mas nem tanto...
depois disso
colo e acalanto

o moinho...

O moinho,
eternos ojos del niño
caminho necessário
coragem e medo
no (des)segredo
sonho do temerário...
sempre há um moinho ou outro pelo descaminho