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Sonhar é preciso, nem que for sonho de padaria...

Nem uma coisa nem outra, o que há entre elas é o que me encanta

domingo, 27 de junho de 2010

Olhei no espelho

Olhei no espelho e me estranhei: não tenho os cabelos lisos, loiros, chapados... 
meus sapatos apenas calçam meus pés, minhas roupas são as que conversam com meu corpo e meu estado de espírito
E minha vaidade vai muito além de qualquer tendência...


Minhas bandas não estão na mídia, estão no mundo,
Minhas músicas cantam pessoas, lugares, odores, altares e tudo que sente...
Olhei no espelho e não vi nenhuma unanimidade,


não senti sequer a idade dos anos que passaram por aqui...
Tenho desejos e prefiro não me acomodar com a esperança,
Quero deixar os sonhos como herança e outros olhos que não biônicos, cibernéticos, plastificados...


Olhei no espelho e vi uma alma incompleta, em busca, incerta, 
pequena e grande, um ser equidistante, triste e alegre, começo sem fim... olhei no espelho e não vi ninguém além de mim, apesar de tantos outros...





terça-feira, 22 de junho de 2010

Quando nasci

Quando nasci, não soube de anjo algum a zelar por mim.
Nem esbelto, nem safado, nem torto, nem sequer um querubim a me dar conselhos.
Mas tinha uma parteira astuta, quase-anja, meio bruta, que me esperava de joelhos.
Trazia no colo uma bacia branca esmaltada,
com toalhas quentes e água benta da cisterna: fonte cristalina em que seria eu lavada.


Não. Não tinha mesmo destino algum entoado pelos anjos,
mas naquela sala eram tantos os santos, eram tantas as rezas,
que só me restava mesmo vingar.
Acho que vinguei.
Pelos menos,
Até agora.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Limão-cravo

Por enquanto a paisagem de meu quintal está repleta das cores e dos aromas dos limões-cravo. Mas, com bem diz a sabedoria popular: se a vida lhe der limões, só lhe resta fazer uma limonada, neste caso, muuuuuiiiiitas!!!!

Foi o Manoel de Barros quem disse:

A maior riqueza do homem
é a sua incompletude.
Nesse ponto sou abastado.
Palavras que me aceitam como sou - eu não aceito.

Não agüento ser apenas um sujeito que abre portas,
que puxa válvulas, que olha o relógio,
que compra pão às 6 horas da tarde,
que vai lá fora, que aponta lápis,
que vê a uva etc. etc.

Perdoai
Mas eu preciso ser Outros.
Eu penso renovar o homem usando borboletas.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Ela queria pegar a lua com as mãos

Um dia, ou melhor, em uma noite morna, minha filha, ainda de colo e em meus braços, cismou em me pedir um presente, diria eu, impossível: sentadinha em meu antebraço, esticou seu bracinho esquerdo e apontou para o céu me pedindo encarecidamente a lua. Vejam só, ela gesticulava e gritava com os olhos e todos os dedinhos das mãos em movimento, me pedindo, ou melhor, me implorando por aquela lua branquíssima que estava a nos contemplar lá do céu. Pode?
O desfecho deste episódio poético não foi tão poético assim: Tive que lhe dar um beliscão porque ela não parava de gritar e de fazer birra querendo insistentemente pegar a lua com as mãos...
O que mais podia eu fazer, uma simples mãe terrena?

sábado, 5 de junho de 2010

Coar um café

Noite gelada, escura, desencantada...
Nem um amigo, nem um afago, quase nenhuma fé
Manhã antecipada, chuvosa, desvendada...
mistérios dos restos da noite que quase acabou,

Janela trancada, a boca cerrada, o frio que ficou...
O corpo encolhido, cobertor como abrigo,
À espera de ninguém, de quase nada,
Apenas o desejo de ter forças pra coar um café

terça-feira, 1 de junho de 2010

Memórias (Não é meu, mas se é do Drummond, é nosso!!!)

Amar o perdido deixa confundido este coração.
Nada pode o olvido contra o sem sentido apelo do não.
As coisas tangíveis tornam-se sensíveis à palma da mão;
Mas as coisas findas, muito mais que lindas,
Estas ficarão...