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Sonhar é preciso, nem que for sonho de padaria...

Nem uma coisa nem outra, o que há entre elas é o que me encanta

sábado, 31 de julho de 2010

Eu queria ser a Emília

Quando eu era criança, queria ser a Emília.
Sonhava com as histórias da Dona Benta e
saboreava em pensamento os bolinhos da Tia Anastácia...

Naquela época, eu também tinha uma canastrinha
e um milhão de bugigangas pra guardar:
Retalhos, papéis coloridos, canetinha, florzinha seca, botões ...

Parece que me sonho já se adivinhava em meio àquelas tranqueiras todas
e desafiando os mostros mais terríveis, fazia questão de trangredir a natureza humana
e me vestir de boneca de pano, armadura que me faz gente até hoje...

quarta-feira, 28 de julho de 2010

reverso de mim

Perdi minha letra,
meu ponto de partida, minha vinda, minha ida... minha sustentação
hoje meu poema é centelha sem luz, 
caminho que não conduz, é reverso de mim...
é canto sem melodia, medo sem companhia, 
é esboço, projeto, início sem meio ou fim...

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Escritura

Trama, texto, tecido, costura.
Ponto, linha, corte e recorte, sutura.
verso e reverso, arremate e avesso,
Rede que enreda cria e criador: escritura

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Grande Poeta Zeca Baleiro

"Quando o homem inventou a roda, logo Deus inventou o freio. Um dia um feio inventou a moda e toda roda amou o feio."

domingo, 11 de julho de 2010

A palavra sempre se dirige (conversinha com Rodolfo)

Com você, meu espelho, fica mais fácil me (re)ver e revisitar as instâncias de tantos eu-outros, quase perdidos nas pontes lançadas no oceano de verbo/letrarragia
que quase nos engolem diuturnamente.
Com o reflexo que me mostraste, pude limpar a névoa e me (re)conhecer,
nesse caminho que construímos passo a passo, palavra a palavra, voz a voz...

SEM HORAS, SEM DORES E SEM LIMITES: A Poesia Prevalece!!!


Minha história com o Teatro Mágico não é minha. É nossa!. Começou quando da janela do quarto de minha filha eu ouvia incessantemente o refrão “Só enquanto eu respirar, vou me lembrar de você...”. Este foi o primeiro contato com a poesia da trupe. No mesmo dia já ouvi o “Entrada para raros” inteirinho e me apaixonei. Fui estudar a história e o trabalho da trupe na internet e me (re)apaixonei...
Dias depois fiquei sabendo que a trupe mágica viria fazer um show aqui em Mogi. Pronto! Me animei inteira e usando a desculpa de levar meus filhos ao show, lá fui eu. Sorriso no rosto, ansiosa como se o show fosse meu...  Já na entrada do Clube de Campo dava para sentir a energia boa, a alegria e o colorido das pessoas que lá esperavam ansiosas pelo show. Em meio a refrões, poesias, flags, pancakes, malabares e muitos narizes de palhaço, experimentei uma harmonia e uma alegria honesta entre as pessoas que lá estavam e não tive dúvidas... me enturmei, pintei o rosto, tirei as máscaras e com orgulho vesti a mim e a muitos outros adolescentes com alguns narizinhos vermelhos que tinha levado a tira-colo.


O show foi maravilhoso, encantador, miraculoso. É um milagre nos dias de hoje reunir tantas pessoas em nome da poesia e da essência... Todos fomos tocados e cada um daquele lugar não seria mais o mesmo... Eu não era mais a mesma e tinha rejuvenescido uns 10 anos.


Sou professora e no dia seguinte lá estava eu compartilhando meu encantamento com meus alunos. Assistimos aos shows, ouvimos músicas, discutimos, refletimos, nos deliciamos e algumas semanas depois, meus alunos também já não eram mais os mesmos.
Reuniram-se e decidiram compartilhar com os outros alunos da escola o que tinham experimentado. Montaram um grupo "Os menos piores" e apresentaram espetáculo na escola inspirados na magia que tinham experimentado e mais uma vez o encantamento se propagou e a poesia prevaleceu...




Foi lindo... eles conseguiram atrair a atenção e os olhares de todos os alunos do período da manhã (e olha que não são poucos), apenas com suas performances... Vi ali pessoas se descobrindo e descobrindo outros... olhos que lacrimejavam e riam ao mesmo tempo, confusos pela simplicidade e riqueza do que viam. Muitos dos que duvidavam (durante os ensaios do grupo vieram nos pedir perdão e cumprimentar os alunos pelo espetáculo.



Mais uma vez muitos outros se descortinavam e a magia da arte cumpria seu papel. Estes alunos já não mais estudam na escola, muitos já trilham seus caminhos como homens e mulheres, trabalhadoras e trabalhadores, mas levam consigo a marca e a fortaleza que a arte tem o poder de nos emprestar... Muitos se enveredam pela estrada artística e não conseguem mais se desvencilhar desse bichinho que nos faz pensar, duvidar e nos mover (graças aos deuses e aos poetas!!!).



Eu, agora sendo outras, mais que nunca, continuo aprendendo-me e recriando-me para não me afogar na mesmície que insistem em nos empurrar goela abaixo...
Agora, ao lançar o DVD Segundo Ato, O Teatro Mágico confirma seu papel revolucionário, essencialmente democrático e continua pregando a liberdade no mundo da música e derrubando as fronteiras, pedindo para que o público "pirateie" suas músicas. Não é mágico isso? Enquanto o politicamente correta tenta banir a pirataria, o TM lança um novo olhar e promove a comunhão e a igualdade. Talvez este seja um exemplo a ser seguido em outras áreas da sociedade também, vocês não acham? Bom, não dá pra negar nem discutir a herança que este grupo, esta trupe, esta família deixou (e tem deixado). Sou, somos, testemunhas vivas e oculares disto!!!


Não perca a chance de participar desta corrente democrática!!! Acesse o site do Teatro Mágico.

sábado, 10 de julho de 2010

Saudade

A saudade que agora encontro é a essência do que parece não mais haver/estar por aqui... pseduo-ausência de ti (e de tudo o que foste, deste, fizeste)...

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Retalhos

De retalho em retalho, ponto a ponto, a trama vai constituindo-se: tecendo-se,
De fio em fio enredando-nos vamos, vou, foste e iremos ainda muito mais...
Enquanto houver poesia, teia, tecido e tecelã,
Ouviremos vozes de avelã... (que eu nunca vi)
Mataremos a sede em lágrimas doces
E caberemos inteiros em conchas de mão...

sábado, 3 de julho de 2010

Hoje eu queria...

Hoje eu queria dormir o dia inteiro... carrego o sono de um mundo e sem enganos, nem planos, dormiria até a noite chegar. Espero então, em um segundo, todas as luzes se desacenderem, todas as camas se refazerem e todas os corpos se derramarem alma a dentro, pra que hoje eu possa dormir o dia inteiro e carregar sem culpas o sono e os sonhos de um mundo!!!

sexta-feira, 2 de julho de 2010

ELA...


Quando tinha menos de dez anos, ela pensou que podia sonhar em pintar quadros: árvores, sóis, pessoas e aquele cheiro de tinta a óleo que impregnava todo o dezembro.
          Um resto quadrado de compensado tornou-se uma tela gigante. Uns restos de tinta nas latas vazias, deixadas de lado, transfiguraram-se em divinas aquarelas e os pincéis próprios para as laterais das janelas, na arma do que viria a ser um pensamento infantil estampado naquele atelier que a vida lhe havia improvisado.
          Ali nascia um sonhozinho com qualquer coisa de pegada artística. As cores e a textura das tintas é que não colaboravam muito.
          Era um azul esverdeado, ou verde azulado que não se destacavam muito bem naquele tom marrom do compensado. Era muito sem graça.
          Bom, desta idade, sairam-lhe da cabeça e pousaram naquele resto de madeira, qualquer coisa, como algumas nuvens, duas árvores, um sol tímido e pessoas. Tudo meio pálido, tudo meio sem tom nenhum, que só existiam pela firmeza dos traços fortes e largos, que aproveitando a disponibilidade do pincel esquecido nas latas vazias, superavam a apatia daquelas cores sem cor que gritavam por atenção. Qualquer uma. Só atenção...
          Este episódio das tintas, assim como tantos outros, passaram. Perderam seu tempo e passaram. Outros viriam, como de fato vieram, para contribuir com aquela pseudo infância daqueles mais que reais sonhos de menina.
          Foi assim também com a história da bicicleta que ela queria tanto ganhar pra poder ir até à quarta-série exibi-la.
          Este sonho já era mais sofisticado, porque além da bicicleta, haveria a necessidade de uma corrente com cadeado e aí o sonho se complicava. A bicicleta, já era quase favas contadas, que seria a do irmão mais velho. Bastava uma pintura verde esmeralda pra ficar novinha em folha. Mas o cadeado com a corrente teriam que ser comprados...
          Bom, lembro-me que ela propôs uma troca de necessidades. Seu pai necessitava dos sapatos engraxados toda semana e ela necessitava da bicicleta com o cadeado. E não é que a proposta foi aceita.
          Bom, de fato teve que esperar por quase um ano, que foi o tempo combinado.(Olha o indício de que nada lhe seria muito fácil) Mas valia a pena, afinal, era uma bicicleta recondicionada, verde, com cadeado e tudo que estava em jogo, e afinal, com a potência daqueles sonhos todos, ela com certeza (a bicicleta), levantaria vôos... E assim o foi.
          Depois de um ano engraxando os sapatos, lustrando-os e ainda de quebra, fazendo cafuné e penteados na cabeça do pai, (todos os dias depois que ele chegava do serviço e sentava-se na sua poltrona), finalmente a bicicleta com cadeado, corrente e tudo, era sua! E por mérito!
          Agora era só voar até à quarta-série e estacionar no pátio, à vista de todos, aquela que seria o início de suas conquistas ingênuas. O primeiro tijolo a ser posto como exemplo de sua força de potência.
          Tão ingênua a vontade de ter uma bicicleta para ir à escola, que esforços não foram medidos para esta conquista. Nem mesmo com o empecilho do cadeado.
          Graça e coragem estão e são intrínsecos à ingenuidade infantil, tão intrínsecos que torna-se quase impossível saber onde começa um e onde termina o outro.
          O que muitos chamam de coragem, pode ser uma dessas vontades infantis que ficam séculos incubados em nós, que de tanto querer, acabam se realizando, quase independente de nós.
          Estaria a fortaleza da criança, pondo por terra toda a certeza do adulto? Talvez seja neste ponto que a vida flui, diria até, que a partir daí,a vida passa a existir de fato em uma realidade que quase independe de outras coexistências.
          Talvez que valha nesta esfera seja de fato a força dos sonhos e sua existência, que só têm valor quando reconhecidos e só são reconhecidos quando de fato são fortes o suficiente para romperem os invólucros que insistem em nos imprimir no decorrer de nossas andanças e que muitas vezes, nem nos pertencem.
          Ainda bem que criança tem uns olhos visionários, não tem muito pudor e nunca mente, apenas fantasia, vez ou outra. Penso ser esta é a arma mais eficaz contra a pasmaceira da superficialidade que hora após hora tenta sufocar-nos as vontades, os prazeres, os sonhos... e até os indícios de vida que restaram em nós e que gritam por ressurreições diárias...

Perdoai (nos)

Perdoai!!!
Mas eu preciso ser Outros.
Eu penso renovar o homem usando borboletas.(Manoel de Barros)