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Sonhar é preciso, nem que for sonho de padaria...

Nem uma coisa nem outra, o que há entre elas é o que me encanta

domingo, 1 de novembro de 2015

do tempo

Eu não tenho mais tempo! Gritou ao se dar conta dos cabelos brancos, das dores nas juntas, das recusas do corpo, das falhas na memória... Eu não tenho mais tempo! Sussurrou em pensamento ao seu pé do ouvido...
Voltou ao espelho. Reviu os detalhes de seu corpo. As pintas na pele das mãos; o riso torto, quase sem simetria, a opacidade dos cabelos, os limites da visão, dos movimentos, dos desejos...Emudeceu. Amedrontou-se.
Deu as costas e uns passos no sentido de ir embora. Não hesitou. Voltou ao espelho e perguntou silenciosamente por aquele menino que corria a rua inteira sem saber de tempo algum.
Você não tem mais tempo! Nunca teve! Tempo é coisa que corre e não se vê, apensa é. Sussurrou-lhe o menino ao pé do ouvido.
E diante dos olhos do velho o menino abriu um novo espelho e deixou-se rir. Riram. De si. Do tempo.

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