A vida, via de mão dupla, em seus atalhos e desvios, descaminhos e rodopios, simplesmente vai... jamais em vão!!!
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Sonhar é preciso, nem que for sonho de padaria...
Nem uma coisa nem outra, o que há entre elas é o que me encanta
terça-feira, 30 de novembro de 2010
segunda-feira, 8 de novembro de 2010
Que asas são essas?
Meu Deus! eu não sei nadar e sei de quase nada! eu não sei voar e me jogo da janela de meus sonhos todos os dias...
Que asas são essas que me sustentam e que água é essa que me alimenta e me
farta??
Que asas são essas que me sustentam e que água é essa que me alimenta e me
farta??
ONTOBIOGRAFIA DE MÃES E FILHOS (quase-título)
Tava aqui lendo a construção da história e tive a sensação de uma queda desavisada quando saí do milharal pra vida real. Tive um choque mesmo, meio que um trauma. Alguém sentiu o mesmo? Vou correndo refazer. Sem medo nem cerimônias, afinal, a vida é isso: um fazer e refazer sem fim, até que um dia, nada mais pode ser feito.
Vou então me arriscando e vocês, por favor, queiram me orientar, para que não me sinta solitária...
Vou então me arriscando e vocês, por favor, queiram me orientar, para que não me sinta solitária...
domingo, 7 de novembro de 2010
Capítulo por capitulo (a intenção é narrar algo que seja forjado aqui, neste espaço, e depois a gente decide o que fazer dos escritos). Por favor comentem e sejam co-autores dessa história.
Vinte anos. É a idade que tinha quando foi mãe e a idade que a filha tem hoje. Duas décadas atrás, o medo, a fragilidade, a insegurança, entre outros sentimentos que causavam dor e angústia, misturavam-se à expectativa do novo, do belo, do inesperado (mas sempre adivinhado) desejo de maternidade. Já na adolescência sabia desse destino dado ou desse sonho de ser mãe. Não. Não pelo fato de brincar de bonecas, até porque, não havia bonecas na sua infância, ao menos estas com ares e olhos e bocas e jeitos de seres humanos. É verdade que milhares de espigas, de todas as gerações, habitavam um milharal tal qual mesmo uma família e ali havia companhia de sobra nas várias personas distintas mesmo pelo tempo que era visível pela cor da roupa (palha) que vestiam e pela tintura do cabelo.
Coisa linda é um milharal, já viu algum? E as marcas do tempo desenhadas em cada pé, nas dezenas de espiguinhas, antes embrião de três grãos apenas e que hoje multiplica-se abraçados no tronco macio, verde-escuro, firme e acolhedor do pé de milho. É assim na comunidade dos milhos. Ainda em potencial, o desejo de vingar se manifesta já em três pessoa e em trio são deixadas no que será seu destino, seu curso, sua caminhada pelo tempo contemplando fases, tardes, cores, nascimentos, crescimentos, perdas até, a interferência do clima, da erva-daninha, dos predadores... sua vida enfim, que com todos esses predicados, não pode ser fim... o fim, transfigura-se assim no milho como no homem como o começo. É na semente que mora a vontade de ser milho e é no grão (outrora semente) que esta vontade é personificada, consumada. Agora grão, o milho pode ser vários: polenta, bolo de fubá, quirera, curau, pamonha, milho assado, milho cozido, sopa de milho e por aí vai... transfigurando-se em alimento e participando, como é do destino do milho, de muitas vidas... O mesmo grão, que fora semente, espiga, alimento e sabugo, volta a ser semente e inicia outro ciclo de vidas.
Quando finalmente consegui comprar um terreno, o fiz pensando mais no tamanho do terreno e na qualidade da terra do que na casa propriamente dita. Apesar de sonhar junto com meus filhos, todos os dias, com uma casa que fosse nossa. Com nossas alegrias, com nossas tristezas, nossas brincadeiras, pois éramos mesmo três crianças, brincando de ser gente grande (acho que daí se origina nossa capacidade de sustentação nesse mundo capital), enquanto tudo ao nosso redor sinalizada para sofrimento, peleja sem esperança, fracasso mesmo, já que somos uma família formada por três pessoas, sendo a mãe, divorciada, sem curso superior, tendo que sustentar sem o apoio algum da família dois filhos. Não. Não tínhamos casa mesmo. Graças à minha facilidade em lidar com as pessoas, fui de cara trabalhar no comércio e era feliz assim. Já divorciada, com uma criança de três anos e a outra por nascer, ainda não tinha casa pra morar. Até voltei pra casa de meus pais, mas se soubesse da dor que seria esse regresso, jamais o teria feito. Minha inocência não me deixou saber que ao retornar para a casa de meus pais, não era mais a mesma filha que voltava. Aquela moça solteira, estudiosa, brincalhona e de quem todos gostavam, parece que havia morrido e dado lugar a outra que eu jamais conheci. Foi uma recepção dolorosa, dilacerante, sofrível que só fui percebendo com os dias. Mais por parte da mãe do que do pai, aliás, o pai ficou muito feliz quando regressara às suas asas, acho que pra ele, a filha que voltava ainda era a sua filha que apesar de ter se aventurado pelas via do casamento e de seu fracasso e adentrar àquela casa onde tinha crescido, agora com dois netos, não perdera o que havia aprendido.
Mas para a mãe, não era assim, e a convivência era insuportável, desonesta, covarde e cruel. Que pena, podia ser bonito, pois agora com ares de maturidade, seria tudo mais fácil... ao menos deveria ser, mas não o foi. Essa relação dolorosa cravou no peito muita dor e decepção, mas também imprimiu uma força, uma resistência, uma resignação, que foram os temperos essenciais para a luta e sobrevivência desses três seres uns largados nas mãos do outro, ainda que disso só sabia mesmo a mãe...
Quantas noite, por falta de privacidade e de carinho mesmo, a menininha de três anos, quando ia se deitar com a mãe que trazia o seu irmãozinho na barriga, trazendo um arzinho de tristeza mas também de esperança, rezava com a reza que sabia fazer: “Papai do céu, muito obrigado por dia, eu amo minha mãe, meu pai e meu irmãozinho. Amigos para sempre. Eu quero uma casa rosa, com telhado e quintal de balança”.
Assim, junto com o sonho dela, eu só podia mesmo querer uma casa com quintal. E tendo esse desenho na cabeça, nós saímos todos os dias, nós três, pra pegar o ônibus cedinho e ir de uma cidade à outra travar nossa luta pra conseguir nossa casa rosa de telhado e quintal. Era uma alegria só. Sempre correndo pra não perder o ônibus, já subíamos direto no banco mais alto e íamos cantando todas as musiquinhas da escolinha lá do alto, sem nem ligar pro povo com cara de sono e com o espanto com que nos encarávamos. O repertório passava de “Borboletinha, ta na cozinha, fazendo chocolate para a madrinha”, “Pombinha branca que estás fazendo.... pro casamento” e quando estas cantiguinhas acabavam, a gente arriscava coisas do meu repertório de MPB mesmo. Mas nunca chegávamos ao fim da linha sem uma música. Ela ficava na escolinha e eu e o moleque seguíamos para a loja...
Com a renda do comércio, consegui bancar nossa vida sozinha e depois que o menino nasceu, em Outubro, finalmente conseguimos alugar uma casa só nossa. Foi lindo!!! Mas esse episódio do nascimento merece alguma atenção, afinal, é parte também da luta pra conseguirmos um pouco da sonhada liberdade em uma casa nossa.
CONTINUA...
Coisa linda é um milharal, já viu algum? E as marcas do tempo desenhadas em cada pé, nas dezenas de espiguinhas, antes embrião de três grãos apenas e que hoje multiplica-se abraçados no tronco macio, verde-escuro, firme e acolhedor do pé de milho. É assim na comunidade dos milhos. Ainda em potencial, o desejo de vingar se manifesta já em três pessoa e em trio são deixadas no que será seu destino, seu curso, sua caminhada pelo tempo contemplando fases, tardes, cores, nascimentos, crescimentos, perdas até, a interferência do clima, da erva-daninha, dos predadores... sua vida enfim, que com todos esses predicados, não pode ser fim... o fim, transfigura-se assim no milho como no homem como o começo. É na semente que mora a vontade de ser milho e é no grão (outrora semente) que esta vontade é personificada, consumada. Agora grão, o milho pode ser vários: polenta, bolo de fubá, quirera, curau, pamonha, milho assado, milho cozido, sopa de milho e por aí vai... transfigurando-se em alimento e participando, como é do destino do milho, de muitas vidas... O mesmo grão, que fora semente, espiga, alimento e sabugo, volta a ser semente e inicia outro ciclo de vidas.
Quando finalmente consegui comprar um terreno, o fiz pensando mais no tamanho do terreno e na qualidade da terra do que na casa propriamente dita. Apesar de sonhar junto com meus filhos, todos os dias, com uma casa que fosse nossa. Com nossas alegrias, com nossas tristezas, nossas brincadeiras, pois éramos mesmo três crianças, brincando de ser gente grande (acho que daí se origina nossa capacidade de sustentação nesse mundo capital), enquanto tudo ao nosso redor sinalizada para sofrimento, peleja sem esperança, fracasso mesmo, já que somos uma família formada por três pessoas, sendo a mãe, divorciada, sem curso superior, tendo que sustentar sem o apoio algum da família dois filhos. Não. Não tínhamos casa mesmo. Graças à minha facilidade em lidar com as pessoas, fui de cara trabalhar no comércio e era feliz assim. Já divorciada, com uma criança de três anos e a outra por nascer, ainda não tinha casa pra morar. Até voltei pra casa de meus pais, mas se soubesse da dor que seria esse regresso, jamais o teria feito. Minha inocência não me deixou saber que ao retornar para a casa de meus pais, não era mais a mesma filha que voltava. Aquela moça solteira, estudiosa, brincalhona e de quem todos gostavam, parece que havia morrido e dado lugar a outra que eu jamais conheci. Foi uma recepção dolorosa, dilacerante, sofrível que só fui percebendo com os dias. Mais por parte da mãe do que do pai, aliás, o pai ficou muito feliz quando regressara às suas asas, acho que pra ele, a filha que voltava ainda era a sua filha que apesar de ter se aventurado pelas via do casamento e de seu fracasso e adentrar àquela casa onde tinha crescido, agora com dois netos, não perdera o que havia aprendido.
Mas para a mãe, não era assim, e a convivência era insuportável, desonesta, covarde e cruel. Que pena, podia ser bonito, pois agora com ares de maturidade, seria tudo mais fácil... ao menos deveria ser, mas não o foi. Essa relação dolorosa cravou no peito muita dor e decepção, mas também imprimiu uma força, uma resistência, uma resignação, que foram os temperos essenciais para a luta e sobrevivência desses três seres uns largados nas mãos do outro, ainda que disso só sabia mesmo a mãe...
Quantas noite, por falta de privacidade e de carinho mesmo, a menininha de três anos, quando ia se deitar com a mãe que trazia o seu irmãozinho na barriga, trazendo um arzinho de tristeza mas também de esperança, rezava com a reza que sabia fazer: “Papai do céu, muito obrigado por dia, eu amo minha mãe, meu pai e meu irmãozinho. Amigos para sempre. Eu quero uma casa rosa, com telhado e quintal de balança”.
Assim, junto com o sonho dela, eu só podia mesmo querer uma casa com quintal. E tendo esse desenho na cabeça, nós saímos todos os dias, nós três, pra pegar o ônibus cedinho e ir de uma cidade à outra travar nossa luta pra conseguir nossa casa rosa de telhado e quintal. Era uma alegria só. Sempre correndo pra não perder o ônibus, já subíamos direto no banco mais alto e íamos cantando todas as musiquinhas da escolinha lá do alto, sem nem ligar pro povo com cara de sono e com o espanto com que nos encarávamos. O repertório passava de “Borboletinha, ta na cozinha, fazendo chocolate para a madrinha”, “Pombinha branca que estás fazendo.... pro casamento” e quando estas cantiguinhas acabavam, a gente arriscava coisas do meu repertório de MPB mesmo. Mas nunca chegávamos ao fim da linha sem uma música. Ela ficava na escolinha e eu e o moleque seguíamos para a loja...
Com a renda do comércio, consegui bancar nossa vida sozinha e depois que o menino nasceu, em Outubro, finalmente conseguimos alugar uma casa só nossa. Foi lindo!!! Mas esse episódio do nascimento merece alguma atenção, afinal, é parte também da luta pra conseguirmos um pouco da sonhada liberdade em uma casa nossa.
CONTINUA...
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