Nasci menina feita para ser mulher
Dar à luz, namoro de sala, beijo mudo
Boneca de pano, cabelo de sol, bem-me-quer
Nasci pronta pra poesia e pro chão e pra tudo
mulher quase feita, eleita a sina
Dançava com a menina de dez idades,
Cresci no tempo rubro das retinas e
Como nunca mais voltasse a vê-lo,
Tingi de luares meu cabelo e fiz da noite
o que já era em mim, o início das saudades
Adivinhei a ida toda e inventei um colo no fim
Sonhei os poemas e escrevi as flores e os altares
Andei na terra das fadas e dos medos sem sair de mim
Trilhei comigo a órbita das letras e estive assim, em todos os lugares
A trajetória do que sempre quis me trouxe aqui
E posso, por querer, tocar o que a mulher sabe,
Sentir o que a criança sonha e sem querer,
fazer verso de fim de vida e música do frio que me dói...
Da loucura sei bem pouco, da solidão, fiz-me coragem
Das janelas: vista sempre curiosa e quase saltos pro céu.
Mulherzinha magrelinha com sentido apurado,
Sei mais de pudim de pão que espirais de linguagem...
Quando nos braços boneca de pano, cabelo de sol e bem-me-quer
Te esperava (sem saber) crescer homem, pra me fazer, sonho de mulher.
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